Sobre a intromissão da polícia

Sonho CLXXXI




Apesar dos meus pais não me telefonarem há já vários anos, lembrei-me de como a minha avó me ligava com frequência, ao ponto de, por vezes, me deixar um pouco incomodado.

Quando era viva, nunca passava muito tempo sem que entretanto ligasse, mas, depois de morta, nunca mais ligou.

Foi quando ia a guiar em plena Lisboa e em plena hora de ponta que o telefone tocou.

Quando me apercebi de quem era fiz um pião com o carro e passei por cima de uma placa, mas não perdi nenhuma peça do carro. Entrei em sentido contrário e, por milagre, numa grande velocidade, consegui estacionar sem bater em ninguém e sem cortar a passagem do eléctrico.

Logo apareceu um carro da polícia com as sirenes todas ligadas e um grande chinfrim.

«Você está louco?! Você está completamente louco?!...» - gritava o polícia.

«Desde o ano de 2007, Senhor Agente!... Desde o ano de 2007, o ano da sua morte, que não recebia uma chamada da minha avó!...»

O polícia revistou de imediato todo o carro e espalhou no chão a areia de um saco de areia para gatos, à procura de heroína ou de cocaína.

«Pudera.» Pensava eu, sem deixar de me divertir. «Com um discurso destes...»

Confessemos - alguma vez nos arriscaríamos a perder uma chamada do outro mundo?