Volvos e piscinas


M. tinha um Volvo de 1980, enorme, uma verdadeira banheira. Íamos os dois para a piscina, uma piscina de água quente que era famosa pelas suas ondas imprevisíveis e por encher e esvaziar de repente. Eu estava numa grande excitação e comprava uma peça de roupa, uma peça de roupa muito gira que condizia com as outras duas que tinha vestidas, o fato de banho e os calções. Que alegria! M. dizia que isso tinha um nome, e dizia o nome. Que nome seria? Ouvi-o no sonho com nitidez, mas agora que escrevo não consigo recordá-lo. Até existe um nome para o facto de uma peça nova condizer com duas antigas? Isto é que jamais seria capaz de imaginar. Que sofisticação. M. era um escritor português contemporâneo famoso pelo seu prolífico vocabulário e talvez a única pessoa viva que ainda me obrigasse a ir ao dicionário, pelo menos com tanta frequência. Estava a enjoar no banco de trás. Então, como uma miúda, trepei pelas costas do banco da frente para passar para o lugar da frente, ao lado de M. Muito melhor!... O carro estava em andamento, mas não havia polícia.