Cadernos de notas - diálogos - recortes - insignificâncias (coisas ouvidas aqui e ali)


1.

(Isabel e A. na praia)

- Olha, está-se tão bem. Passaram duas horas e nem se deu por nada. São onze e onze.
- Onze e onze!... Lá está!...
- Lá está o quê?
- Esses números, perseguem-me por toda a parte, toda a minha vida, toda a minha vida.
- Ah... é curioso... a mim também. Onze e onze, vinte e dois e vinte e dois, doze e vinte um, catorze e quarenta e um... a toda a hora, a toda hora.
- Não. A mim é só onze e onze. Onze e onze. E isso tem um significado, sabias?
- Ah sim? Qual?
- Não sei.
- Não sabes?
- Sei que existe um significado, mas não sei qual é.
- Que desilusão. E não te lembras de nada?
- Nada.
- Quem me dera saber!
- Não vale a pena. Acreditas que, se alguém julga que sabe, saberá?

2.

(P. e M., numa reunião de trabalho, dispondo na mesa os seus computadores portáteis)

- Olha, olha, não é que têm dois computadores iguais? - reparou um colega.
- Oh! Oh! Pois é!
- E aposto que a M. também não sabe que o computador tem dois discos.
- Dois discos? A que propósito?
- Tem este, mais rápido, e este, mecânico, mais lento. Exacto. Está vazio. Como o da P. Não sabias que tinhas dois discos?
- Pois não.
- Ahahah!...
- Olha - disse a P. - e os telemóveis, será que também são iguais?
- Olha pois são!... Iguais!...
- Da mesma marca, da mesma série e da mesma cor.
- Iguaizinhos.
- E nós estávamos bem longe de reparar nisso...
- Caramba... que havemos ainda de descobrir?...
- Não eras tu que tinhas a lua em Capricórnio e o ascendente em Leão?
- Era.
- Igual.
- E isso dá dois computadores e dois telemóveis iguaizinhos, na vida prática?
- E sabe-se lá mais o quê...