Sexo por sexo... e a prova da realidade.

Sonho CLII
Uma vez que o professor se tinha esquecido das horas, a lição de música prolongava-se.
A Maria do Mar dizia, olhando para o relógio:
«Professor, já está na hora.»
Mas o professor desejava que terminassem a escrita de um coral que se estava a tornar empolgante, por causa de uns saltos atípicos na voz do tenor.
Antes de terminar a aula, chegava a mulher do professor com uma amiga e pedia ajuda para mudar os móveis da casa.
O professor era Biagio Yamaguti.
A casa era um velho quinto andar sem elevador e com umas escadas de madeira bastante empenadas.
Quando a Maria do Mar estava a descer as escadas com a sua cúmplice - uma mulata de aspecto muito agradável -, ouviu lá em cima Biagio gritar bem alto:
«Tenho de ir comprar cigarros!»
E a Maria do Mar sentiu no peito uma alegria galopante, ao ouvi-lo descer as escadas.
Biagio rapidamente as apanhou e, como sabia que a Maria do Mar era muito difícil de conquistar, começou a beijar a sua cúmplice.
Mesmo não sendo uma cena propriamente atraente, a Maria do Mar estava com uma dor de estômago terrível, semelhante àquelas que temos nas descolagens dos aviões, por causa da excitação que aquilo lhe causava.
Biagio Yamaguti era um desses raríssimos homens que lhe inspirava um desejo sem reservas, ao ponto de querer despir-se num ápice e atirar a roupa toda para o chão.
«Como é que se pode desejar tão intensamente uma coisa nem por isso assim tão boa?»
Questionava-se a Maria do Mar.
Já estavam encostados a um muro da estrada e Biagio continuava a beijar a sua cúmplice, quando passou um bando de raparigas que, pelas risadas, todas se tinham deitado com ele.
«Aproveita, aproveita!...» Cantarolavam as raparigas. «Esse, esse... Nem queiras saber!...»
Mas a Maria do Mar não podia deixar de olhar para tudo aquilo com a tristeza antecipada de conhecer por experiência própria o sabor da amargura posterior.
Rudemente comparado, era como comer uma taça inteira de mousse de chocolate e ficar depois com uma valente dor de barriga.
- Mas claro!... - pensava a Maria do Mar - Há sempre quem tenha o estômago de um verdadeiro lagarto pré-histórico!...
Aliás calculamos, com o auxílio dessa insana e desmesurada faculdade da fantasia selvagem, que o estômago desses lagartos seja das coisas mais resistentes que a evolução da biologia animal alguma vez na Terra produziu.