Maria do Mar

Fragmento 116

 
 
Primeiro Primeiro
 
- BRULADO, BRULÊ,
MARILÊ!
 
- PORQUÊ?
PORQUÊ O PORQUÊ?
 
- (por favor: não grite.)
 
O silêncio treme, na ante-espera das palavras.
Bruquibraque... – é só um ruído, afinal.
 
Luvinhas brancas já não nos afectam,
nem os empoeirados de pó de talco,
como que de personalidade.
Melhor fariam, se praticassem
correr como o coelho
da Alice dormindo
à beira das águas
brilonantes briling
águas do sono infinito
das meninas-brico-brinking.
 
 
(e esta frase, peço-lhe apenas
que ma despedace até
que ela gema, suspire
e se dissolva como espuma
fumo-lume   FUM-LUM.)
 
 
Olhe: o cão que ancára, a cara que treme,
o vento que éme, o corpo que mára.
Rifo que réc, réc, réc, réc,
régua riscada no rio do corpo.
 
Ri lua, ri tu lua, rima lua, ringla comigo!...
...fala comigo finalmente a outra língua,
essa língua gás e grão de poeira
que se desfaz e faz com a língua-lua
dentro da boca, mmm… beijo que suspende
o corpo numa escada de raios lunares, d-graus de luz
ou de lágrimas-trancadas-arrancadas em que agora se destila
o corpo intensivo que tem pele infinita
e onde a nossa fala desliza
como as mãos.
 
-  ARA OCARA PÁCÁRÁ TREMBE!
 
Não de encolhas, menina-ringle,
as folhas voam primeiro enquanto
dobramos o papel.
 
 
Alçapão – Quadrados no Chão.
 
Por baixo dele, a vida acontece
mas não aqui, CUBRIQUE RUDO,
aqui há um segredo por trás do medo,
aqui é tremendo:
o ar.
 
 
Segundo
 
O que é tremendo é o ar.
Não se enganem, esses que descobrem
a violência nas grandes coisas.
Não são sublimes os rochedos,
nem as nuvens imensas, carregadas
de electricidade, o que é tremendo,
o que é tremendo é o ar,
caos irisado de onde as cores
emergem, como borboletas.