Sobre o lado errado de um elevador


Sonho CXXIX
 

Apesar de tudo o que se tinha passado, a Maria do Mar ia de novo ter com Biagio Yamaguti.

Subia até ao último andar naquele elevador antigo que parecia uma gaiola de pássaro e que balançava, com as madeiras rangendo.

Mal chegava, dava imediatamente de caras com Biagio, que tinha a camisa aberta.

Ele estava realmente "escaldado" e por isso tinha bocados de creme branco espalhados pelo corpo.
 
«Apanhaste demasiado sol?...» Perguntava ela.
 
Olhando para a sua pele, porém, foi assaltada pela memória do prazer que em tempos tivera e não pôde evitar sentir um forte desejo de ir para a cama com ele.
 
Mas distinguiu a tempo na sala ampla, por detrás do piano de cauda, um outro homem vagamente estendido numa cama, e isso causou-lhe imenso medo.
 
Ela lembrava-se muito bem de que não queria fazer sexo em grupo.
 
«Tenho de me ir embora.» Dizia ela. «Preciso de me ir embora imediatamente.»
 
«Mas não queres tocar piano?» Perguntava ele.
 
«Não me apetece.»
 
A Maria do Mar saía tão depressa que apanhava o lado errado do elevador.
 
Descia agarrada aos cabos, em vez de ir dentro da gaiola.
 
«Porque raio havia de fazer uma coisa tão arriscada?... Não poderia ter esperado pelo elevador?...»
 
Biagio Yamaguti corria atrás dela pelas escadas abaixo e, quando a Maria do Mar estava prestes a entrar no seu descapotável, interpelava-a:
 
«Não queres vir comigo à praia?»
 
Ela ficava muito intrigada com uma proposta tão simpática, vinda da parte de Biagio.
 
Porque haveria ele de querer ir com ela à praia?
 
Mas depressa percebia que era apenas para arreliar a ex-mulher.
 
«Não quero ir à praia.»
 
«Adeus.»
 
E partia de cabelos ao vento, no descapotável.