A migração intergaláctica

Sonho CCCVII


Estávamos no meio da marginal, de noite, uma multidão, entre conhecidos e desconhecidos. O que estávamos ali a fazer? Não sei. Pelo vidro do meu carro podia ver o edifício do Hotel Palácio do Estoril a voar pelo céu fora. "Extraordinário." - pensava eu. "Estas são as novas naves espaciais?" Janelas. Desenho oitocentista. Ao meu lado estava um miúdo com o avô e a avó, mas os seus corpos eram muito lisos e ligeiramente brilhantes e vagamente faziam pensar em desenhos japoneses. Perguntava-me se eles seriam deste mundo e rapidamente descobri que não, que eram extraterrestres. D. também tinha emigrado para Marte e agora o seu corpo tinha aquele aspecto liso e vagamente brilhante, bem acabado. "Não é demasiado desolador viver em Marte? Não sentes muita falta do céu azul, das oliveiras, dos ciprestes e dos telhados vermelhos das casinhas?" Ele mostrava-me uma fotografia de Marte, um deserto desolado de poeiras e crateras. "Não." - respondia ele. "Vemos coisas em que antes não reparávamos. E essas coisas são muito belas. Sublimes, na verdade." Valeria a pena emigrar para tão longe? "Estamos em paz e aprendemos a contemplar os neutrões entre as frestas dos átomos. O nosso olho afinou-se." Nada mais precioso que a paz. E os corpos deles respiravam estranha beleza.