Sobre a tortura

Sonho CCXCIV



Não há como descrever a sessão de tortura que ocupava a visão do sonho.

Depois de muito sofrer, sem tréguas, a dor de Anaïs D. transformou-se em prazer, num puro prazer inqualificável que transcendia o corpo como um vento que passasse por ele e que transcendia todas as fibras da sua carne para ser apenas um fluxo inominável e abstracto, uma onda sem nome e uma libertação que a deixava como um raio de luz flutuante ou um feixe de partículas esvoaçantes sem alma.

Os nossos recursos são infindáveis.

Será que até a morte podemos transformar em volúpia?

Agora era possível ir à praia de noite, porque as praias estavam iluminadas com amplos e gigantescos holofotes que substituíam a luz solar. 

Bela maravilha.

Em 1508, em Estraburgo, também coube aos milhares de miseráveis famintos dançar até à morte.

Shakespeare chamou-lhe "praga dançante".

Presentemente, muitas meninas passeavam os gatos ao colo, na via pública, como se fossem cães.