Sobre as mentiras em que acreditamos ao longo das nossas vidas

Sonho CCXXX


Estava a dar um filme sobre as mentiras em que acreditamos ao longo das nossas vidas, principalmente aquelas que nos instruem sobre os caminhos da nossa felicidade.
 
Era uma aula de filosofia. Esse tinha sido o método que o professor escolhera para obrigar os alunos a pensar naquilo que se aceita sem pensar, talvez porque a imitação seja o instinto mais universal do ser humano.
 
Em geral, começamos por acreditar que a nossa felicidade pode depender do amor, da fama, do dinheiro ou do sucesso - e isto acontece até mesmo quando acreditamos nas versões suaves destas teorias sobre a felicidade, como aquelas que nos dizem que podemos ser felizes a fazer bem aos outros.
 
Raras são as propostas que nos explicam que a essência da alegria é ainda mais delicada e difícil de perscrutar do que a filigrana dos átomos invisíveis que compõem o ar, e que alcançá-la passa mais por estarmos atentos a coisas que geralmente ninguém vê.
 
Que dificuldade!... Estar atento!...
 
Alguém nos disse que a essência da nossa alegria é em geral singular e inimitável e, além disso, desconhecida em todos os nascimentos, como nós mesmos?
 
Para nada disto estamos preparados.
 
Eu saía do filme pois descobria que estava cheio de nódoas de sopa na roupa.
 
«Já não tenho idade para me sujar desta maneira!...»
 
Despi a roupa na casa de banho, com esperança de a limpar, mas houve quem olhasse para o meu corpo com espanto.
 
Essa pessoa estava deveras surpreendida porque com roupa eu tinha um aspecto bastante diferente.

Em público, há pessoas que preferem esconder-se.

Vesti a minha roupa sem conseguir tirar as nódoas e meti-me no carro para voltar para casa.