Sobre a anulação de todas as previsões realistas

Sonho CCXXXI
 
 
Guiava em cima de um carril, no caminho de ferro, e toda a gente se metia à minha frente.

Primeiro foi um urso, mas consegui travar a tempo.

Depois foi um adolescente, com uma mochila às costas.

Depois uma pequena criança.

De todas as vezes consegui travar, mas com uma enorme angústia.

O atrito do carril era de tal modo diferente do da estrada que todas as previsões de travagem se mostravam impossíveis.

Apareceu um daqueles doidos de gabardina que se querem mostrar nus por baixo, um exibicionista.

A esse ameacei atropelá-lo e ele fugiu como um cão, com o rabo entre as pernas.

Por fim, deparei-me com um enorme tanque de guerra, parado no fim do carril, antes de uma ravina sobre o mar.

«Estamos todos perdidos!...» - Pensei.

Nesse momento a única coisa que procurei fazer foi calcular os movimentos que me permitiriam ter um mínimo de contusões depois do embate.

O meu carro era descapotável e saltei para cima da tampa do motor com esperança de saltar para cima do tanque antes do choque.

Atrás de mim vinha um comboio, em alta velocidade.

Não sei como fiz, mas consegui gritar para o condutor do tanque:

- Dê-me a sua mão!

Precisava que me desse também a outra mão, mas ele estava a falar ao telemóvel.

Como é realmente admirável a capacidade do egoísmo humano!...

Uma só mão porém foi suficiente para amortecer o choque e cair de uma forma não tão má, pela ravina abaixo.

Fiquei à espera de ouvir o estrondo do choque do comboio, mas não ouvi nada.

Tudo o que via eram enormes barcos de guerra que deslizavam na terra e não no mar.

E dentro deles, gigantes - os peixes enormes, cintilantes e tranquilos.

Cada barco levava um só peixe que o ocupava por inteiro.

Que imagem extraordinária!