Cactus Opuntia

Fragmento 12



Cactus Opuntia é o nome destas plantas que estão à beira mar no caminho de São Pedro e que quero fotografar escrevendo-lhes poemas de amor.

Elas crescem sem ramos, em glóbulos que nascem de outros glóbulos, como esferas elípticas que vêm de outras esferas elípticas, com uma intensidade desarmante, que me comove.

Como podem existir estas formas vivas, e que Deus é que existe, afinal, nesta força que congrega a matéria veloz e aleatória em corpos?

Fico a olhar, a olhar, a olhar.

Talvez não exista mesmo nada que as descreva.

Mas num outro passeio sou surpreendida com uma alegria ainda mais intensa, totalmente inesperada.

Os grandes cactos mais altos que eu e que são de uma quase brutalidade escultórica, com as gigantescas massas verdes lisas e ovais, nascendo umas das outras, afinal os grandes cactos verdes e minimais estão em flor.

Atravessadas pela luz podem ver-se de súbito as pequenas e inesperadas folhas recém-nascidas das flores que imprevisivelmente florescem em pétalas luminosas nas suas auréolas circulantes.

Nunca, nunca, mas mesmo nunca imaginei que estes ovos verdes espalmados, tão primitivos e quase brutais, dessem flor...

A infinita delicadeza das pétalas, diáfanas sob a luz e que com o seu rosa e amarelo ali florescem, põe nesta brutalidade, nesta espécie de simplicidade minimal e nesta força original qualquer outra coisa...

Não sei o quê. Um inesperado...

Um inesperado que de súbito me abana até à raiz, como uma nova aprendizagem.