Prelúdio de J.S.Bach BWV 926 em ré menor, dos "Pequenos prelúdios do caderno de Wilhelm Friedemann Bach"

 


Bach escreveu estes pequenos prelúdios num caderno para o jovem Wilhelm Friedemann Bach, um dos seus filhos. Destinavam-se cada um em particular a ensinar, na prática e de forma muito condensada, um conjunto variado de técnicas de composição, imagino eu, bastante queridas ao compositor pai. Sempre que olho para este caderno me ocorre que, se fosse compositora, me dedicaria a explorar obsessivamente estes recursos, multiplicando-os, expandindo-os, desdobrando-os, etc, noutros temas, noutras paisagens ou noutros mundos sonoros (por exemplo, um piano não temperado, com mais de trezentos sons). Como executante, encontro neste prelúdio uma das coisas que mais me magnetizou na música de Bach e barroca, desde os treze anos, e que para muitos é insuportável. A repetição obsessiva, o movimento contínuo, quase um voo em voragem. Queda ou ascensão, não sabemos. Mas algo, um tipo de movimento, sensação, pensamento e entrega, em que a lucidez também não evita deslizar com energia do desespero.