Nascemos.
Nascemos de repente, sem saber
o que é nascer.
Morremos de repente, também.
Mesmo que pareça aos poucos,
aos olhos dos outros... mas,
para cada um, certamente,
a morte será de repente.
Morremos sem saber o que é morrer.
A vida, do pico do infinito,
é-nos acontecida.
No meio do caos,
quase um vórtice do caos,
quanta luta, quanta alegria,
quanta dor e quanta festa
para estar de pé.
Qual a dificuldade de pensar numa coisa maior,
se tudo é maior?
Qual a dificuldade de pensar numa força maior,
se tudo é maior?
Até em mim - mistério -
tudo é maior do que eu.
Até em mim, cada batida do coração,
cada inspiração, cada revolução
das tripas me passa ao lado
e sem que eu saiba
do acontecido.
Deixa-te estar.
Deixa-te estar tranquila.
Tenta olhar para o esplendor,
tenta olhar para o absurdo
e para o esplendor
com a mesma graça
e com a mesma elegância.
Talvez uma das provas seja esta.
Acreditar, sim - no quê?...
Na alegria, no amor, na paz.
Na vida.
Acreditar teimosamente.
Acreditar sem ver.
Só sentindo.
Acreditar exactamente como quem ama.
Fotografia de Natalie Bitter
(poema de Françoise M. em Orações a um Deus Desconhecido)