Hoje a morte

 


Hoje do nada senti 
que a morte
é um leito suave, tão suave
como deve ser o casulo
de que nasce a borboleta.
Foi de repente.
Hoje a morte era um ninho,
ninho de passarinho
ou berço de linho,
sono suave
de que todos os sonhos
gloriosamente
se ausentam.
Foi talvez aquela luz.
Uma luz tão boa.
Parecia ser o fim.
E o fim era apenas
uma forma
de acolhimento.
Que luz seria?
Uma ilusão de óptica?
Eu vi-a, brevemente,
e logo se desvaneceu.
Era uma luz tão quente.
Luz. Lux.
Fronteira entre a aura 
de uma vela e a escuridão.
Mas expandia-se.
Parecia um caminho
e parecia chamar.
Canto mudo.
Canto. Cantus.
Não. A morte
ainda não.
Mas hoje a morte
parecia vir tão suave
como o sono
e aquela luz,
luz dourada e tão ténue,
entrada de outra coisa.
Outro horizonte.
Foi de repente.
De lado nenhum.
Hoje a morte
era tão agradável.
Uma coisa tão boa.
Tão boa como a ideia
de dormir e poder esquecer
tudo o que somos
ao acordar.