O momento de fazer alguma coisa

Sonho CCLXV


Estava de pé no meio da sala, ao lado de um piano de cauda, quando as paredes da casa começaram a tremer.
 
- Um sismo!
 
Muito rapidamente, tentei lembrar-me de tudo o que ouvira dizer sobre sismos. Mas parecia-me de repente que havia um conjunto de acções que eram incompatíveis umas com as outras. Deveria abrigar-me debaixo de uma mesa, do piano, de uma ombreira de porta, ou deveria correr para as escadas do prédio, que eram de cimento armado? Devia ter prestado mais atenção a todas essas informações, quando as lera e ouvira. E os gatos? Como poderia pegar nos dois gatos que eram enormes ao mesmo tempo?

Na verdade, não havia tempo para nenhuma destas ponderações.

Como são restritas as nossas possibilidades de acção no tempo que duram três segundos!
 
Vi o chão inclinar-se sob os meus pés e, como nem sequer num dos animais podia pegar, pensei:
 
- Cheguei àquele ponto em que não vale a pena fazer nada. Se o destino quiser que fiquemos intactos debaixo de uma viga qualquer, ficaremos. Se não, rezemos magicamente para que ao menos a morte seja rápida e indolor.
 
Deixei-me ficar totalmente imóvel, entregando-me ao deus do meu entendimento, mas nada aconteceu.
 
A casa não se movia uma palha.
 
- Acabou? - pensava eu.
 
Parecia-me que chegava o momento de fazer alguma coisa.