Sobre a angústia de querer salvar um passarinho

Sonho CCXIII



Durante um passeio, a minha amiga C. encontrou um passarinho no chão.
 
Era pequeno como um pardal, cor de cinza prateado, com uma suave faixa branca no peito e uma popa verde-alface.
 
- Olha!... - exclamou ela. - Um passarinho!...

Distraída nos meus pensamentos, eu nem sequer vira o passarinho.

Olhava para ela sem saber o que fazer, considerando-a mais capaz de salvar um passarinho.
 
- Está tudo bem. - Dizia ela, pegando nele com as duas mãos. - Vê como ele é forte, bravo e corajoso.
 
Lançava-o no ar - e ele voava.
 
Começava por me sentir muito feliz, mas, observando melhor, conseguia ver que o pássaro voava de cabeça para baixo.
 
Mais adiante ele caía, e, apesar de ter voado um bom bocado, talvez uns bons metros, era aos nossos pés que ele caía, como se o espaço fosse um harmónio e tivesse sido todo dobrado.