Sobre as tragédias em que perdemos tudo, e sobra o deslumbramento

Sonho CCLXXIX


Num almoço de Domingo, Wilson F. apareceu de surpresa, trazendo um pacote com pequenos chocolates.
 
Era um gesto mesmo simpático.
 
Anaïs estava muito feliz e não sabia como agradecer, quando de repente todos se aperceberam que tinha deflagrado um incêndio de tremendas proporções, mesmo ao lado da casa.
 
Nada se podia fazer. Não havia tempo para pegar em nada, nem sequer para correrem uns ao lado dos outros. Estava tudo perdido. Havia apenas que correr o mais possível enquanto as pernas e o peito aguentassem.
 
Anaïs, como todos os outros, correu cegamente na direcção oposta à das chamas.
 
Deu por si no meio de um matagal escuríssimo, onde era necessário passar por cima de ramos caídos.
 
Tinha os joelhos feridos, quando a falta de ar a obrigou a parar.
 
«Onde estarão todos os outros?... Será que conseguiram salvar-se?...»
 
Estava admirada por não ter sido devorada pelas chamas, e porque tudo parecia tão calmo.
 
De repente, reparou que Wilson Florentine também caminhava a seu lado, em silêncio.
 
Depois de tudo o que se passara, como era possível que caminhassem lado a lado?
 
No meio da tragédia mais dolorosa, é incrível como uma alegria improvável traz de um golpe os corações de volta ao velho deslumbramento.