presque rien #1

 
 
 
 




 
A caminho da minha casa não existem coisas que não falem.
 
As nuvens falam e cada árvore,
cada um dos arbustos que cresce à beira dos caminhos
também fala.
 
Como é que falam se não é com palavras
aquilo que dizem?
 
Falam em quase nadas, em coisas rarefeitas
e impossíveis de nomear.
 
Falam talvez porque emitem afectos e presenças
como faíscas.
 
Como brumas ou como auras.
 
As janelas, as bermas dos passeios, as corolas das flores,
as oliveiras, os ciprestes, as luzes,
as passadeiras às riscas, os sinais de trânsito...
 
Falam com a alegria inamovível das coisas que estão de pé e que dizem:
«Estou aqui. Estou aqui.»
 
 
Queridas árvores que se erguem contra o vento

e que trazem nas copas o infinito e o esplendor,
 
que bom que é que haja luzes nas janelas.