Carros e pilecas


A minha mãe agora tinha um Porsche descapotável que queria a toda a força que eu conduzisse, só para dar uma voltinha. Mas eu não queria conduzir o Porsche, preferia de longe a minha pileca. A minha mãe porém insistia e dizia-me que eu não podia continuar pela vida fora sempre com o mesmo temperamento tão rebelde. Há um limite para a extravagância e para a rebeldia, dizia ela. Qual é o problema de dar um voltinha, ir até ao Guincho e voltar? Um belo passeio, só isso, e sempre ficas a saber o que é conduzir um verdadeiro carro. Para minha desgraça e contra a voz da minha intuição, lá acedi a dar uma voltinha no Porsche, esse símbolo de tudo que desprezava, só para fazer a vontade à minha querida mãe, que já tanto sofrera por causa desse feitio intratável, segundo o descrevem. Pois não é que me estampei mesmo com o Porsche? Eu que nunca tivera um acidente com a minha querida pileca, em quinze anos! Que infelicidade. A vã vaidade e acima de tudo a complacência, contra a intuição, nunca deixam de dar os piores resultados.