Sonho CCCXIII
F. de Riverday colocara-se numa péssima situação. Subira pelas escadas de incêndio de um prédio de sete andares e agora, por causa das vertigens, não conseguia descer. Não deixava de ser uma posição interessante. Podia ver, nas várias cozinhas iluminadas, diferentes pessoas a preparar o jantar. Pensou que essa contemplação a poderia distrair das suas vertigens e assim dar-lhe coragem para descer, mas, pelo contrário, aquelas vertigens fizeram-na tremer de tal maneira que escorregou e ficou suspensa, presa apenas por uns pequenos ferros, a uma altura de sete andares. «Morro de certeza, se cair. Não há qualquer hipótese.» Numa voz muito sumida, a F. de Riverday começou a pedir ajuda. «Chamem os bombeiros...» Pedia ela. Mas não podia falar mais alto com medo que tudo se desmoronasse e, naquele equilíbrio instável em que se encontrava, nem sequer tinha forças para repetir muitas mais vezes o pedido. Em que sarilho se tinha metido!... De repente alguém numa das cozinhas se apercebeu do que se passava. Veio um grupo de pessoas, todas com muita vontade de salvar a F. de Riverday. Pegaram nela e tiraram-na do perigo, mas queriam cortar as suas pernas, para poderem transportá-la melhor. A F. de Riverday suplicava que não fizessem isso, que não era boa ideia, mas eles achavam que sim e diziam que depois no hospital colocariam de novo as suas pernas, com uma operação. Enquanto foram buscar as serras, a Riverday conseguiu convencer um dos rapazes e raparigas a levarem-na inteira para um local seguro. Assim aconteceu, graças à sorte. Mas nunca deixa de ser surpreendente a dimensão que pode tomar a maldade de uma boa intenção.
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