Dentes e fadas

Sonho CCCXII

De repente, dei-me conta que me faltavam vários dentes na parte de trás da boca, no maxilar inferior. Que coisa tão estranha! Não me tinha apercebido de ter arrancado assim tantos dentes. Pelo contrário, costumava sentir muita satisfação com os meus dentes. Limpava-os e escovava-os cuidadosamente. Tinham nascido bem alinhados, simétricos e fortes. Iria custar muito dinheiro fazer implantes para todos aqueles buracos. E além disso, tinha um outro dente a abanar. Meu Deus... que caos... Abanava tanto que pude tirá-lo com a língua, como se fosse um dente de leite. Olhei para o dente com espanto, pois era mesmo um dente de leite, sem raiz. Como era possível que me caísse um dente de leite aos cinquenta anos? A minha maturidade tinha sido difícil de alcançar, mas não imaginava que esse processo também tivesse um reflexo expressivo no meu corpo. Pelo menos havia esperança de que nascesse um outro dente, desta vez definitivo. Tentava animar-me com essa ideia, perante tantas constatações dolorosas. Uma criança falava da fada Serôntia. «Nunca ouvi falar.» - dizia eu. «Quem é ela?» «É a fada dos jardins, que cuida das flores.» Precisava muito dessa fada, estava contente por saber que existia. O meu jardim secreto, aquele espaço dos meus sonhos que eram só meus e em que ninguém podia tocar, estava em ruínas e parecia um matagal. Havia muito trabalho a fazer e a ajuda de uma fada seria excelente. 

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