Quando a urgência é grande, os sentimentos escondem-se em tocas

Sonho CCLVII


A única forma de escapar dos meus inimigos tinha sido saltar pela janela do sétimo andar e correr pelo telhado.
 
Vivamente me espantava, enquanto corria, com a minha total ausência de medo.
 
O telhado desenhava um grande plataforma inclinada e hexagonal em torno de uma espécie de torre, também ela hexagonal.
 
Cada vez que passava por um dos vértices desse hexágono, olhava para trás para ver se alguém me seguia e corria o mais que podia.
 
O meu fôlego não era infinito. O meu peito doía como se fosse estalar, mas eu não parava nem um segundo.
 
De súbito, percebi que aqueles não eram os meus inimigos, mas uma equipa de resgate que nos vinha salvar como salvaram também os doze rapazes presos numa gruta na Tailândia.
 
Mil pessoas empenhadas nas operações para salvar doze rapazes é qualquer coisa que mostra o melhor da humanidade.
 
Tomado de exaustão, deixava-me cair diante dos meus salvadores, sobre o telhado.
 
Agora é que eu tinha muito medo, um medo que trepava por mim acima e me paralisava como um colete de forças, tinha um medo terrível das alturas e da inclinação daquele telhado. Agora é que um tal cansaço me invadia que todas as forças me abandonavam, e as lágrimas caíam-me dos olhos.
 
Estranho.
 
É estranho como até para chorar precisamos de um pouco de paz.