A casa e o mundo

Sonho CCLI


Era preciso acolher as pessoas, porque muitas pessoas estavam sem casa.
 
A guerra tinha tirado a casa a muitas pessoas.
 
Observava que a minha casa tinha umas portas que nunca abrira.
 
Havia afinal muitos mais quartos na minha casa.
 
Nesses quartos havia outras portas que davam para outros quartos e nos outros quartos por sua vez havia mais portas que davam para outros quartos.
 
Nunca mais acabava!
 
Podia acolher a Dona Maria José e o Senhor Virgílio, que estavam reformados mas que ainda cuidavam da limpeza do prédio, a Dona Maria Idalina, médica, o Senhor João, que era porteiro no colégio, a Adélia, a Rosarinho, funcionárias de limpeza, a Esmeralda que cuidava dos coelhitos no pátio para as crianças e todos os que precisassem de casa.
 
Havia espaço para toda a gente!
 
Esses quartos estavam cheios de pó, e cada um teria de os limpar.
 
Como é que, sozinho, poderia limpar tantos quartos?
 
Maravilhado, descobria que uma das portas dava para um grande jardim, um jardim no meio de um vale à beira de um lago e ao longe via-se uma floresta e o pico gelado de uma montanha nevada.
 
«Meu Deus, tudo isto dentro da minha casa, e eu não sabia!...»
 
Havia muitas outras portas fechadas que não queria abrir, pelo menos imediatamente.
 
Ter essas portas por abrir aumentava a minha vontade de existir, por um lado, e uma visão empolgante e aventurosa do futuro, por outro.