Notas para outros desenvolvimentos

"A única liberdade absoluta é a do pensamento. Sentimo-la, esta possibilidade de uma liberdade absoluta, em momentos privilegiados, não há dúvida. Estes momentos podem ser verdadeiras epifanias, tal é o sentido de libertação que espoletam. Mas também podem ser momentos de uma simples inocência subtil e inconsciente, sem noção de si. Por exemplo: quando imaginamos que somos um pássaro e voamos. É possível que a sintamos, esta liberdade, muito mais do que a conheçamos. E é possível que a imaginemos, mais do que a compreendamos. Mesmo esta liberdade do pensamento, é preciso lutar por ela todos os dias, todos os dias, todos os dias. Se nos falta a coragem, ainda que apenas num diálogo íntimo, de nós para nós, perdemo-la. Se cedemos à vaidade, perdemo-la. Se queremos ser agradáveis a um deus que não o da nossa alma e coração, ficamos presos. É como se tivéssemos uma venda nos olhos, é como se caíssemos numa armadilha. Se não conseguimos ser verdadeiros connosco próprios, perdemo-la. E esta é a grande liberdade, tão grande que nos deixa perplexos, siderados e maravilhados. Mas quanta disciplina e força interior é necessária? Quem nos ensina, nos tempos que correm? Com quem aprendemos? Cada barco está entregue ao seu timoneiro."


António Pizarro em " Dom Sigismundo não matou Dona Constança Crastina Doroteia Flamulina de Urraca e Aragão, no ano 1149"