A Françoise vivia de novo num antigo T0 de onde se via uma nesga de mar.
Estava tudo a cair.
Mesmo umas estantes caras que então tinha comprado e que acreditava que resistiriam ao tempo tinham ruído com o peso dos livros.
«Para quê tantos livros?...»
- A terra move-se de um modo imperceptível. É por isso que tudo acaba por ruir. - Dizia alguém.
A Françoise estava com os olhos cheios de lágrimas e sentia que talvez não sobrevivesse a uma tão grande tristeza.
Sempre tanto trabalho para manter tudo limpo e de pé!... Sempre tanto trabalho só para manter tudo na mesma!...
Entravam no apartamento três homens que vinham fazer as obras.
Um deles perguntava:
- Há aqui alguma mulher? Tu és uma mulher?
E a Françoise respondia:
- Eu sou uma mulher.
- Tanto dinheiro que eu gastei neste candeeiro!... - Dizia o homem. - E ninguém nesta casa o ligou!...
- Um candeeiro que é próprio para mulheres, com a sua luz especial iónica!... - Continuava ele. - Vocês acham que não precisam dos homens, mas precisam!...
De facto, quando ele ligou aquela luz especial iónica, o ambiente ficou muito diferente.
- Foi por isso que tudo ruiu!... - Continuava o homem.
Entretanto entrou pela porta um rapaz que conseguiu seduzir a Françoise com um beijo.
Na verdade, o rapaz era um homem.
Qualquer que fosse a idade de quem se envolvesse consigo amorosamente, passava a ser um rapaz.
Há tanto tempo que não experimentava um beijo que a Françoise deu por si a vir-se quase imediatamente.
O rapaz apercebeu-se disso e ambos fugiram para um parque de estacionamento onde se enfiaram no carro e fizeram quase tudo o que conseguiam fazer.
É incrível como uma mulher pode viajar por tantos picos de prazer, com quase nada.
A Françoise lembrava-se de um certo professor na faculdade que deixava a sua imaginação de tal modo ao rubro só com as palavras que dizia e com o movimento das mãos enquanto falava que ela tinha de sair e torcer as cuecas no final da aula.