De um barco à vela, tínhamos caído ao mar.
Nós os náufragos gritámos fortemente de modo a que o resto da tripulação nos ouvisse.
Tentámos nadar para perto do barco mas percebemos que uma corrente fortíssima nos levava, enquanto o vento levava o barco.
«Nada.» - Pensava eu. - «Somos menos que nada.»
Porque era tão ínfima a nossa força perante a força da corrente e tão avassaladora a nossa impotência.
Em menos de segundo, qualquer ideia de futuro se dissipou como uma voluta de fumo a confundir-se com o ar.
Num ápice, o barco desapareceu do nosso horizonte.
Como é imenso o mar!...
Como é imensa a terra!...
Atordoado, eu fazia contas à vida e à morte.
A morte seria dolorosa mas pelo menos rápida.
A vida, pelo contrário, parecia-me que ficava por viver.
Tantos livros por ler!...
Tantos livros por escrever!...
Mais do que tudo o que me doía eram esses livros na hora da minha morte.
«Ainda não chegou a hora da nossa morte!...»
Gritou um dos meus companheiros de infortúnio, ao ver, no meio das vagas, um helicóptero.
«Aqui está um verdadeiro Deus ex machina.» - pensei eu, maravilhado com o som do helicóptero.
Depois disto, não dormiria durante três dias.
Tal era o píncaro de alegria em que me lançava a inesperada novidade de me saber dotado de uma hipótese de futuro, isto é, de uma vida.