O planeta Terra estava realmente muito diferente.
As casas que estavam à superfície da Terra
encontravam-se unidas umas às outras, não apenas por estradas, mas também por
canais subterrâneos que as ligavam a centros comerciais com vários andares acomodados debaixo da terra.
A Maria do Mar enveredava por um desses canais e
entrava numa ampla galeria praticamente deserta, toda forrada de mosaicos
coloridos e brilhantes e com tectos abobadados e suspensos de colunas
coloridas, semelhantes às dos antigos palácios egípcios.
«Mas que giro que isto é!...» Pensava ela.
Era de madrugada e como não havia quase ninguém a
Maria do Mar sentia-se realmente corajosa por ser capaz de andar por ali em
explorações, sozinha.
Não queria comer, naquele momento, mas havia comida
deliciosa espalhada por todo o lado e era difícil resistir. Bolos, suspiros, morangos, chantilly,
gelados, pão-de-ló, framboesas...
Ela passava por todas essas coisas o mais depressa
que conseguia e com água na boca, mas sem provar nada, e acabava por se
encontrar num corredor muito estreito, cheio de gente e onde quase não havia
espaço para passar.
Um dos homens que estava à sua frente, muito
agressivo, decidia então voltar para trás sem querer saber de ninguém.
Empurrava um carrinho de compras de metal e como a
Maria do Mar não conseguiu desviar-se, o homem passou por cima dela com o
carrinho, apesar dos seus gritos e das suas súplicas.
Aquele homem era seu tio e era conhecido pelos da
sua família como um homem tacanho e excepcionalmente insensível, mas ninguém se atrevia a confessá-lo
publicamente.
No seu trabalho como professor universitário era apenas conhecido como um homem
cordial e simpático, ainda que pedante e um pouco estúpido, mas em casa estava
sempre a chamar «burra» à sua inteligente mulher e também à filha mais nova que
um dia obrigou a acordar de repente, lançando-lhe uma prateleira de livros
sobre a cabeça.
Portanto, nada mais natural que esse homem,
encontrando-se em apuros com o sufoco em que estava, tivesse atropelado a Maria
do Mar com o carrinho das compras.
Esta, mal conseguiu salvar-se do inusitado tormento,
deu imediatamente de caras com uma senhora muito simpática que pretendia
explicar-lhe como a sua cunhada estava «infectada».
«Mas infectada com o quê?...»
A verdade é que quando a cumprimentavam ela dava um choque como um aparelho eléctrico em curto-circuito.
«Meu Deus!...» Pensava a Maria. «Famílias!...»
E fugia dali, correndo.
Quando chegou à superfície, verificou que estava a
decorrer um ataque massivo de animais à humanidade por causa das atrocidades
praticadas contra eles ao longo dos séculos.
«Muito bem.» Pensava ela. «Já era tempo de se fazer
alguma justiça.»
Um grupo de vacas, de bezerros e de touros atacava
toureiros com forquilhas, para ver se eles gostavam da brincadeira.
Adiante, um homem gordo e atarracado fugia montado nas
duas cabeças de dois cães.
A Maria do Mar podia ver de costas o seu rabo gordo a saltitar em cima das cabeças dos dois cães, para cima e para baixo, em grande velocidade e aos ziguezagues.
A Maria do Mar podia ver de costas o seu rabo gordo a saltitar em cima das cabeças dos dois cães, para cima e para baixo, em grande velocidade e aos ziguezagues.