Via sob as ondas os corpos que subiam à superfície do mar.
Que visão...
Que visão...
Afinal era o meu corpo que subia à superfície - era eu que tinha morrido.
Se tinha morrido, como era possível que me visse?
Não. Talvez visse agora estes corpos a subir à tona do mar por causa da história daquele assassino dinamarquês que deliberou afundar um submarino, construído e projectado por si mesmo ao longo de anos com paixão, para poder matar e torturar a jovem jornalista que decidira entrevistá-lo.
Perguntaram os delegados da justiça dinamarquesa, pois se era verdade que a rapariga tivera um acidente, como rezava em sua defesa o assassino, e morrera no interior do submarino, porque tinha o homem serrado o corpo em bocados antes de o sepultar no mar.
«O que se faz quando temos um grande problema?» - respondera ele.
«Dividimo-lo em partes mais pequenas.»
Extraordinária resposta!...
Que estranhos são os seres humanos que habitam a terra!
Quantas almas desconhecidas e inimagináveis!
Que pensaste, homem? Que sentiste?
A rapariga seria, com certeza, extremamente forte.
Cada bocado do corpo da rapariga subiu à tona para contar a sua história.
O primeiro bocado foi visto por um ciclista. A história não ficou debaixo do mar.
Os nossos sonhos não conhecem a morte.
Só conhecemos, sem que realmente a conheçamos, a morte dos outros.