Era um dia de tempestade.
O mar estava revolto.
O hotel tinha vários andares, alguns por baixo do mar e outros sobre o mar.
Os andares por baixo do mar tinham vista sobre o fundo do mar e os andares sobre o mar tinham vista sobre o mar.
A Maria do Mar não queria dormir num quarto por baixo do mar.
Tinha medo das ondas, das tempestades e dos trovões.
Os quartos que tinham vista sobre o mar estavam degradados e por isso era necessário pintar todas as portas.
- Eu preciso de um litro de tinta. - disse o amigo da Maria do Mar.
- Eu preciso de setenta mililitros de tinta. - disse a Maria do Mar.
- Isso é pouco. - disse o amigo da Maria do Mar - O que vais pintar com setenta mililitros de tinta?
A Maria do Mar tinha horror ao desperdício. Na verdade, pensava esticar a tinta. Ficava doente com a ideia de que podia sobrar tinta e que então teriam de deitar fora o resto da tinta.
- É melhor pagarmos a alguém para pintar as portas. - disse a Maria do Mar.
- Assim aproveitamos o tempo para visitar os nossos mortos no cemitério. É uma forma melhor de passar o tempo. Muito melhor do que passar o tempo a pintar portas.
Sentar-se-iam à beira das campas, ainda que chovesse.
Em silêncio, mas falando interiormente, sem que ninguém de fora desse por isso.
Em silêncio, mas falando interiormente, sem que ninguém de fora desse por isso.