Há pessoas assim, como esponjas.
Mesmo sem querer, ganham logo o sotaque de quem está perto de si.
Numa mera conversa de circunstância, a elegante e sofisticada senhora, que fala português do Brasil, exclamou, enquanto subíamos no elevador:
- Que corte radical, hem?
(Ki cortchi radicau, hem?)
E logo eu, fazendo um esforço para pelo menos manter o sotaque do português europeu:
- Cansei!... Agora não tem trabalho nenhum mesmo... Você só penteia no banho... Chegou um dia, me olhei no espelho, tudo arrumadinho, e pensei: «Nossa!... Que pessoa é essa?...»
Um fenómeno surpreendente, a porosidade involuntária da identidade linguística.