Sonho LXXXIV
Afinal, a Maria do Mar era mãe de
duas meninas, mas não tomava conta delas, nem sequer se lembrava dos seus
nomes.
Eram ainda dois bebés, um
deles recém-nascido, e nenhum falava.
Com muito esforço, a Maria do Mar conseguia
finalmente lembrar-se dos nomes, Maria Inês e Maria Francisca, mas
não estava absolutamente certa de não estar enganada. Sentia-se muito
envergonhada.
Pedia à sua mãe se não podia
levá-las para o seu quarto e ser ela a tomar conta delas.
Queria dar-lhes colo, mas pelos
vistos nem sequer tinha casa.
Sentia-se muito culpada. Nunca se
tinha apercebido que pudesse ser assim tão má mãe.
Quem tomava conta delas era a sua
mãe, mas elas não tinham berço.
A Maria do Mar não percebia como é
que pudera ser tão inconsciente.
Ela própria se sentia tão frágil e
sem forças, completamente impotente, como é que poderia tomar conta de alguém?
Dormiam numa caminha improvisada
ao lado da cama dos seus pais, as duas inocentes meninas, e pareciam felizes.
Mas a tristeza de Maria do Mar era
como a morte.
Não se lembrava de quem pudessem
ser os seus pais das duas meninas, nem sequer de ter estado grávida.
«Onde é que ficou o meu leite, se nunca
dei de mamar?»
Estava mesmo muito confusa.