No alto de um anfiteatro grego arruinado, bem lá no topo da escadaria do auditório, a Françoise observava de longe a figura do amor da sua vida.
Entre a popularidade e a venalidade sempre lhe parecera existir uma fronteira difusa.
Por isso, observava com desconfiança como ele era aplaudido pela multidão, dividida entre a desilusão e a curiosidade.
Porém, levantando-se e caminhando sobre o palco ele esticou o braço, cortando o ar, e exclamou:
- Basta! Isto não passa de uma fantochada!
Nesse momeno Françoise ficou muito feliz ao apercerber-se da longevidade do seu amor, ainda que nada de prático fizesse com isso.
Sentou-se no chão com as pernas à sapo, como quando era pequena, e, dobrando-se, começou a escrever sobre o chão no seu caderno de notas.
O chão era ao mesmo tempo a sua cadeira e a sua mesa.
Viera a descobrir muito mais tarde que essa posição era usada nos exercícios de flexibilidade dos bailarinos para conseguir aperfeiçoar a posição en dehors, e não apenas pelas crianças que não sabem sentar-se como os adultos para brincar.
Uma posição de animal sobre a terra, abraçando o chão.
Enquanto escrevia, apercebeu-se de uma sombra que se estendia sobre as suas mãos e o seu caderno, mas decidiu ignorá-la, pensando:
- É alguém que passa.
Porém, a sombra não saía dali.
A Françoise olhou para cima e viu que era o amor da sua vida.
Ele estendeu-lhe a mão e ela, segurando a sua mão, levantou-se alegremente.
Que iriam fazer?
Beber um café?
Ver um filme?
Iriam directos para a cama?
Qualquer programa seria excelente.