Um conhecido de F. de Riverday chegou com um presente na mão.
Era um saleiro que tinha a forma de um eléctrico vermelho e, na ponta, uma pedra de gelo.
Parecia uma dessas recordações que os turistas gostam de levar para casa, mas não se percebia bem o que fosse.
Riverday teve vontade de passar a língua na pedra de gelo, mas achou que não seria apropriado.
De resto, sabia-se lá por onde tinha andado aquela pedra de gelo.
Era uma pedra de gelo especial, que nunca derretia.
- O que é isto? - perguntava F. de Riverday.
-Ah! Não sabe?... O gelo e o sal?
- Não sei, não. - dizia ela.
- Mas isso toda a gente sabe.. O gelo e o sal!...
- Ora essa! Eu não sei!
Ficou a olhar para aquilo deveras intrigada e pelos vistos sem maneira de saber de um modo imediato pelo seu interlocutor o que aquilo era.
- Bom - disse ele, depois de uma pausa - e agora já sabe?
- Pelo menos sei que é alguma coisa do domínio popular que todos conhecem mas eu não.
- Mas isso é nada!
- É muito para quem não sabia nada de nada de todo.
- Que exagero.
- Certo. Mas é alguma coisa e alguma coisa é melhor do que nada.
- Pois claro, quanto a isso estamos de acordo.
Porque entre aqueles que folgam em desentender-se pelo menos o doseamento da expressão não deixa de ser uma virtude.