Eu e uma amiga estávamos a passar férias num hotel de luxo, mas sentíamo-nos muito infelizes.
Incomodava-nos o luxo e o ócio.
Queríamos sair dali o mais rápido possível, só que não havia transportes.
Mesmo assim fizemos as malas e pusemo-nos a caminho da saída, para o que desse e viesse.
Por uma coincidência incrível, encontrámos a Esmeralda que conduzia uma grande carrinha, fazendo trabalho voluntário no transporte de doentes com mobilidade reduzida.
Como é que a Esmeralda, que trabalhava tanto, ainda arranjava tempo para ajudar os outros?
A Esmeralda uma vez interpelara um bando de miúdos que arrastavam uma pomba com um cordel ao pescoço, e que já estava ferida:
- Meus meninos, não querem dar-me essa pombinha, para eu cuidar dela?
E a pombinha salvara-se.
A Esmeralda também um dia lhe lera um poema que fizera em menina para o seu avô, que era moleiro num velho moinho, e ela lembrava-se de ter chorado, ao ouvir o poema, porque tinha uma cadência tão certa e era, além disso, tão inocente.
E ali estava a grande e boa Esmeralda.
Mas a Esmeralda era tão grande, tão grande, tão grande que fazia três vezes o seu tamanho, quer o seu, quer o da sua amiga.
Como eram ambas pequenas, ao lado da Esmeralda!...
- Ó Esmeralda!... As suas botas!... - Exclamara de repente, ao reparar nas suas enormes botas.
A Esmeralda mirou as suas botas com orgulho.
Parecia o Gato das Botas.
Apesar de não estarmos doentes, nem com mobilidade reduzida, estaríamos a salvo, pois havia espaço na carrinha.
A Esmeralda nunca nos deixaria ao abandono por causa de umas regras que naquele momento a ninguém prejudicava quebrar.
Como era a história do Gato das Botas?
Parecia que já não se lembrava.
Apenas da sua avó, a contar a história do Gato das Botas.
E de como o Gato das Botas era bom e dedicado, esperto e encantador.