Estávamos em guerra e por isso a Francisca fugia com uma pequeníssima menina ao colo.
O pai da menina continuava a tocar violoncelo num pequeno quarto sem janela, de modo que a Francisca partiu sozinha.
«Não morremos com as bombas. Morreremos com o frio.» - Pensava a Francisca, procurando, com as mãos trémulas, os casacos.
Tudo o que conseguiu arranjar foi um blazer de Primavera para si e uma camisola de malha para a pequena, que tinha dois anos.
Com essas coisas nas mãos, desatou a correr.
Há muito tempo que Francisca não falava com os pais, e pensou se naquele momento não deveria ligar-lhes.
A Francisca abrigou-se na grande casa da sua avó, que estava vazia desde a sua morte.
«Teremos comida para quanto tempo?»
A Francisca conseguiu abrigar os seus dois gatos, mas sentia uma angústia extrema por eles.
«Estamos todos condenados.»
Tentaram entrar em casa quatro homens, e ela matou-os a todos, um por um.
Quando por fim chegaram os seus amigos, a Francisca disse:
«Matei quatro homens.»
Dois deles matara-os com um tiro no coração.
Os outros dois, enquanto subiam as escadas, do alto lançara-lhes uma coisa pesada sobre a cabeça e, enquanto estavam atordoados, trespassara-lhes o peito com uma velha lança que estava ao lado de uma armadura medieval.
A sua avó sempre gostara de antiguidades.
«Que fazemos agora com os corpos?»
A Francisca tinha dois revólveres em cada bolso, mas tinha as balas contadas.
Só conseguia lançar sete de cada vez, por isso as mãos não lhe podiam tremer.
«É melhor lançá-los pela janela.»
A Francisca só conseguia pensar em três coisas. Se todas as entradas e janelas estavam protegidas; no número de refeições que poderia confecionar com a comida que se encontrava na despensa; e na vantagem que seria possuir, em vez de um revólver, uma espingarda com vários cintos de munições.
A todos os que quisessem fazer-lhe mal, a Francisca matá-los-ia com uma bala no coração.
A sua mão não tremeria.
Os seus olhos não se fechariam.