Prelúdio de J.S.Bach BWV 924 em Dó Maior, dos "Pequenos prelúdios do caderno de Wilhelm Friedemann Bach".

Adoro este pequeno prelúdio, que comecei a tocar em 2004, creio. A articulação entre a linha melódica da mão esquerda e os acordes arpejados da direita, na primeira parte, é uma das coisas mais belas do mundo. Para mim Bach é sempre voz (a sua composição musical, em última análise, são vozes e movimentos corais), por isso não me choca tocar estas músicas no piano, um instrumento que Bach chegou a conhecer mas que tinha quando surgiu um desempenho muito pobre. Nunca me canso de ouvir as cantatas e as Paixões. Bach gostava muito do clavicórdio, que fazia diferenças de intensidade no som, entre forte e piano, como o piano actual, mas que não se ouvia numa sala maior e que por isso servia apenas para estudar e ensinar. Este prelúdio na sua primeira parte traz-me um tão profundo afecto de consolação, uma coisa realmente tremenda. E depois há aquela erupção de força e alegria, como se à compreensão se seguisse um renascimento. Isto é: a uma forma de compreensão - segue-se uma espécie de nascimento. Nunca toco este prelúdio exactamente como gostaria de o tocar. Mas é mesmo assim.