The hell

Sonho CCLXXII


A Françoise abriu a porta de casa e encontrou dentro da banheira dois ladrões. Ficou tão surpreendida que os deixou fugir. Nada tinha sido roubado lá em casa, apenas havia coisas a mais. «Agora os ladrões, em vez de roubarem coisas, trazem coisas?» Havia dois limões e uma caixa de fósforos em cima da bancada. Para além disso, a Françoise descobriu uma bomba instalada no fundo de um dos armários da cozinha. Tinha escrito, em letras vermelhas contra um fundo amarelo:
 
 
THE HELL
 
E fazia tic-tac.

«Ah!...» - exclamou a Françoise - «Talvez a bomba sirva para rebentar com o quarteirão inteiro, ou, quem sabe, com a cidade inteira!...» A Françoise ainda pensou em correr o mais que pudesse sem avisar ninguém, mas não conseguiu abandonar o resto das pessoas à sua sorte. Foi chamado um especialista em desactivar bombas e ali ficou a trabalhar, de joelhos, com instrumentos minuciosos. A Françoise por sua vez ficou a observá-lo, contagiada pelo seu auto-domínio e bravura. Se a bomba explodisse, voariam os dois pelos ares em mil pedaços.

- Como consegue ter tanta coragem e sangue-frio, e continuar a trabalhar sob tanta pressão? - perguntou a Françoise.

- Qualquer altura é boa para morrer. - respondeu o especialista.