Sexo surreal

Sonho CXCIV



A Françoise vencera por fim aquela paralisação involuntária que sempre a impedira de olhar durante mais de alguns segundos para Heinrich Hart.

Tal como a Medusa, que com a sua cabeleira de serpentes transformava em pedra quem para si olhasse, assim esta visão tinha possuído durante muito tempo um idêntico poder, fosse pela qualidade indefinível da aura amorosa, que a Françoise nunca compreendera, fosse pelo abalo que lhe causava o desejo entretanto provocado.

Agora porém a Françoise tinha passado à acção, e não se arrependera.

Era urgente transitar dos abraços para os beijos e depois arrancar toda a roupa para ficarem apenas pele com pele, não havia tempo a perder.

Há momentos singulares em que se torna absolutamente evidente que não cabem na escassez do tempo, nem o nosso desejo, nem os nossos gestos.

Durante o sonho porém a Françoise apercebeu-se que a posição em que se tinham colocado era anatomicamente impossível.

Uma mulher não pode amar como se fosse um homem e continuar a ser uma mulher.

A Françoise não queria dar-se conta de estar apenas no interior de um sonho, nem que, com essa consciência, o sonho terminasse.

Era tão triste que aquele desejo chegasse ao fim.

«Pelo menos tu, sonho, não te acabes tão cedo!...»