Sobre os tempos de guerra

Sonho CIV


Estávamos no meio de uma guerra e, portanto, as raparigas eram obrigadas a deitar-se com quem aparecesse.
 
Mesmo assim, a F. de Riverday conseguia escolher e, afinal, parecia que as coisas não eram assim tão más.
 
No fim, ofereceram às raparigas a possibilidade de escolher entre uns pijamas limpos que estavam expostos em cima de mesas, mas só havia partes de cima, não havia partes de baixo.
 
Foi isto que lhe inoculou uma angústia difusa e insuperável.
 
Quando terminou a guerra e a deixaram regressar a casa, a F. de Riverday não conseguiu reconhecer a casa.
 
O jardim estava transformado num matagal e, na sala, teve de dar um beijo a uma mulher velha que estava sentada e que não sabia quem pudesse ser.
 
Seria a sua mãe? A sua avó?
 
A mulher não se levantou.
 
Era uma mulher fria e antipática e a F. de Riverday não queria dar-lhe um beijo.
 
Na sala de jantar estavam várias pessoas à volta de uma mesa, mas também não conseguiu reconhecê-las.
 
De resto, ninguém se levantou.
 
Das janelas via-se uma praia de cores alegres, pontuada aqui e ali pelas copas circulares e coloridas dos guarda-sóis. 
 
Foi só perante essa visão alegre que Riverday sentiu a violência que antes não sentira.
 
A angústia perante a visão suave foi de tal modo insuportável que lhe fez faltar o ar.
 
Desfeito em mil pedaços que voavam em todas as direcções ao mesmo tempo.
 
O corpo.