Liberdade de voto

Fragmento 173
 
 
Em 25 de Abril de 2015, a democracia portuguesa, tal como a conhecemos, fará quarenta e um anos.

Como é possível que, volvido quase meio século sobre uma tal conquista, seja a abstenção quem vence por maioria as últimas eleições?
 
Quer queiramos quer não, este é um dos grandes espectros que nos assombram.
 
Mas será que uma democracia que durante quarenta anos fez dançar as cadeiras da assembleia entre dois partidos é uma democracia em cuja salubridade e maturidade possamos - e devamos - confiar?

Não podemos impedir-nos de observar como a relação do conjunto das pessoas portuguesas (vulgo - povo) com aqueles que as governam se assemelha à daqueles «casos amorosos» em que um dos cônjuges, apesar de séria ou subtilmente maltratado pelo outro, fica paralisado na acção pela mistura explosiva de dois afectos poderosos - a dependência e o medo.
 
A quem pertence uma grande parte da responsabilidade colectiva pelo estado do país após mais de trinta anos de governo às mãos de dois grandes partidos, senão  a esses mesmos partidos?
 
Eis o famoso sermão do medo, a vozinha trémula que habita o fundo de todas as almas: «Um salto no escuro... é sempre um salto no escuro...»
 
Mas eu gostava de citar a Maria do Mar, quando ela escreve:


Mais vale um dia sermos
a falha desastrosa
de uma aventura excessiva e perigosa,
do que sermos o menos
de tudo o mais que pudéramos ser.

 
Não deixa de ser um facto. Teremos sempre um futuro na medida da nossa coragem.